terça-feira, 27 de outubro de 2015

O sinodo sobre a família

Durante um encontro em Manila (Filipinas), disse: "As famílias sempre terão as suas provações, não precisam que lhes junteis mais! Pelo contrário, sede exemplos de amor, perdão e solicitude".
A explicação mais detalhada, sobre a origem do encontro foi durante uma entrevista a Valentina Alazraki (para o canal mexicano Televisa):
"Significa que há uma crise familiar no interior da família. E sob este ponto de vista penso que o Senhor quer que enfrentemos isto: preparação para o matrimônio, acompanhamento dos que convivem, acompanhamento dos que se casam e guiam bem a sua família, acompanhamento dos que tiveram um insucesso na família e têm uma nova união, preparação para o sacramento do matrimônio, pois nem todos estão preparados.
E quantos matrimônios que são fatos sociais mas são nulos! Por falta de fé. Já Bento frisou que a falta de fé e de consciência em relação ao que se faz são problemas graves. A família está em crise.
«AH, DARÃO A COMUNHÃO AOS DIVORCIADOS». COM ISTO NÃO SE RESOLVE NADA.
Como integrar na vida da Igreja as famílias replay? Ou seja, as de segunda união que por vezes resultam fenomenais... enquanto as primeiras foram um insucesso. Como reintegrá-las? Que vão à Igreja. Então simplificam e dizem: «Ah, darão a comunhão aos divorciados». Com isto não se resolve nada. O que a Igreja pretende é que tu te integres na vida da Igreja. Mas há quem diga: «Não, eu só quero comungar». Um distintivo, uma honorificência. Não. Deves reintegrar-te.
Há sete coisas que, segundo o direito atual, as pessoas em segundas uniões não podem fazer. Não recordo todas, mas uma é ser padrinho de batismo. Porquê? Que testemunho pode dar ao afilhado? O de dizer: «Repara, querido, na minha vida enganei-me. Agora encontro-me nesta situação. Sou católico. Os princípios são estes. Eu faço isto e acompanho-te». Um verdadeiro testemunho. Mas se vier um mafioso, um delinquente, alguém que matou pessoas mas é casado, para a Igreja pode ser padrinho... São contradições. Há necessidade de integrar. Se creem, mesmo se vivem numa situação definida irregular e a reconhecem e aceitam e sabem o que a Igreja pensa desta condição, não é um impedimento. Quando se fala de integrar entendemos tudo isto. E depois acompanhar os processos interiores".
NO FINAL, DEI-ME CONTA DE QUE FOI O SENHOR QUE QUIS ISTO, E QUIS BEM.
O sínodo sobre a família não fui eu que o quis. Foi o Senhor. E foi uma coisa sua. Quando D. Eterović, que era secretário, me trouxe os três temas mais votados disse-me que entre eles o mais votado era a contribuição de Jesus Cristo para o homem de hoje. Está bem, façamo-lo. Era este o título do sínodo. Continuamos a falar da organização e eu disse-lhe: «Façamos o seguinte, ponhamos a contribuição de Jesus Cristo para o homem e a família de hoje». E assim ficou combinado, com a família um pouco em segundo plano. Quando fomos à primeira reunião do conselho pós-sinodal começou-se a falar com aquele título e depois da contribuição de Jesus Cristo para a família, o homem de hoje ficou um pouco fora. E no final foi dito: Não, porque este sínodo sobre a família...» e foi a própria dinâmica que mudou o título. E eu fiquei calado. No final, dei-me conta de que foi o Senhor que quis isto, e quis bem.
Porque a família está em crise. Talvez não as crises mais tradicionais, infidelidades ou como se chama no México a «casa pequena» e a «casa grande». Não. Mas uma crise mais profunda. Vê-se que os jovens não querem casar-se e convivem. Não o fazem por protesto, mas porque hoje são assim. Depois, com o tempo, alguns casam-se até na Igreja.

O direito a verdade

Em uma época de direitos humanos, sociais, ambientais e ecológicos, animais, etc., devemos saber qual é um dos direitos que mais importa na vida social:
“O primeiro de todos os bens sociais é a verdade; e o mais precioso de todos os direitos, que os homens reunidos em sociedade devem assegurar uns aos outros, é o direito de empregar sua inteligência para adquirir, conservar e aumentar este tesouro.
(…)
Daqui, temos que concluir que não existe para o homem um interesse superior ao de adquirir a verdade. E ela é tão necessária ao indivíduo para o cumprimento de seus mortais destinos, como indispensável para as sociedades progredirem e existirem. A verdade é para eles o que é para um edifício a lei do equilíbrio, que mantém cada uma de suas partes solidamente fixadas em seu lugar e unidas às demais partes. O equilíbrio das sociedades é tão somente o resultado do devido respeito aos direitos e do livre cumprimento dos deveres.
(…)
Mas quem não vê que o respeito ao direito e o constante cumprimento do dever supõem um conhecimento dos princípios sobre os quais um e outro se fundam? A verdade, empregada devidamente pela razão e pela fé, é a única que pode colocar o homem no estado de dominar suas paixões egoístas, respeitar o direito, mesmo que seja contrário a seu interesse, por mais que lhe imponha um sacrifício, e conservar deste modo a ordem da sociedade”.
(La soberania social de Jesucristo, ó Las Doctrinas de Roma acerca Del Liberalismo, P. H. Ramiére S.J., 1875, Barcelona, Librería de La Viuda e Hijos de J. Subirana, p. 74.76).

domingo, 27 de setembro de 2015

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Leitura espiritual

Há muitos tipos de leitura religiosa, mas não vou falar agora de todos nem de vários deles. Apenas falarei de um: daquele que, na linguagem clássica cristã, se chama «leitura espiritual», em sentido estrito, e que costuma fazer parte do programa diário das pessoas que querem levar a sério a sua vida interior.
Consiste na leitura atenta e bem assimilada de um livro que trate de assuntos de «vida espiritual», com seriedade e boa doutrina, e que os focalize de maneira prática, de modo que nos ajude a aplicá-los à nossa vida diária.
Tenha em conta que, dentro do conceito estrito de «vida espiritual» ou de «vida interior», não só entram as práticas de oração, de adoração, a Eucaristia, o amor a Nossa Senhora e outras devoções… – que são, sem dúvida, elementos básicos de uma vida espiritual autêntica-, mas entram também as virtudes e o modo de melhorá-las (fé, caridade, paciência, firmeza, temperança, constância, etc.), bem como os defeitos (vaidade, preguiça, ira, inveja, desordem sensual, etc.) e o modo de vencê-los; e ainda o esforço por santificar a família, por achar Deus no trabalho, por levar Deus a outras almas, etc, etc. Em suma, entra tudo quanto nos ajuda a procurar a santidade e o apostolado no dia-a-dia.
Como fazer a leitura espiritual?
1) Antes de mais nada, é preciso convencer-se da sua necessidade e tomar a decisão de fazê-la, sempre que possível, diariamente.
2) Ao tomar essa decisão deverá ter em conta:
a) Primeiro: que é importante escolher o melhor momento do dia – o “seu” melhor momento -para essa leitura. Antes do café da manhã? No escritório, antes de começar o trabalho? No começo da tarde (hora que pode ser útil para estudantes, para algumas mães de família…)? Ao visitar uma igreja, antes de voltar para casa? No ônibus ou no metrô, desde que possa sentar-se? Pense, tire experiências, e defina.
b) Pense que será mais fácil definir o horário, se tiver consciência de que a leitura não precisa ser longa: ordinariamente bastam dez ou quinze minutos para tirar bom fruto dessa prática espiritual. Vivendo-a com constância, em pouco tempo terá lido, e aproveitado, mais livros bons do que imagina.
c) É importante que você defina – volto a dizer – o lugar, o momento e a duração dessa leitura espiritual. E acrescento um conselho, fruto da experiência: se você definir dez minutos de leitura, faça sempre dez minutos como “norma”, nunca menos. Caso queira esticar essa leitura por mais tempo, ou deseje ler mais em outra hora, não há problema, mas considere isso como “leitura extra”. É só em relação ao seu programa diário, aos seus dez ou quinze minutos, que deve se sentir comprometido, com sincera exigência.
d) Escolha bem, em cada momento, o livro de leitura espiritual. Para isso, é muito útil pedir conselho a uma pessoa de critério que conheça a sua alma e as lutas da sua vida. Em todo o caso, sempre que possível, procure ler um livro que vá ao encontro das suas necessidades espirituais daquela temporada.
e) Uma vez definido o livro, leia-o devagar, pausadamente, em sequência, e do começo ao fim (lendo, relendo, refletindo, rezando). Quem borboleteia nas leituras, “debicando” por curiosidade pedacinhos de vários livros ao mesmo tempo, sem completar nenhum, tira pouco proveito e permanece superficial na sua vida interior.
f) Não importa quanto tempo demorar a terminar um livro, mesmo que seja breve. Também não importa, antes pelo contrário, reler vários dias em seguida os mesmos trechos do livro, se a sua intenção é assim gravá-los melhor, para tirar deles mais fruto. Um livro bom pode ser relido todos os anos (por exemplo, um clássico sobre a Paixão de Cristo, no tempo da Quaresma; ou um bom livro sobre Nossa Senhora, em Maio, mês de Maria).
g) Depois da leitura diária, ao fechar o livro e pergunte-se: O que foi que eu li, o que compreendi, o que me ficou mais gravado?
3. É muito bom ter o desejo de conhecer (de ler) as obras clássicas de espiritualidade, que têm ajudado inúmeras pessoas a se aproximarem de Deus e a melhorar. Como diz São Josemaria: «A leitura tem feito muitos santos» (Caminho, n. 116). Para ter ideia de que tipo de livros estou falando, vou citar alguns, apenas alguns, dentre os mais conhecidos:
─ Tomás de Kempis: A imitação de Cristo
─ São Francisco de Sales: Introdução à vida devota (também chamado Filotéia), Tratado do Amor de Deus (mais “teológico”)
─ Santo Afonso Maria de Ligório: A oraçãoA prática do amor a Jesus CristoAs glórias de Maria
─ Santa Teresa de Lisieux (Santa Teresinha): História de uma alma (também chamadoManuscritos autobiográficos)
─ Santa Teresa de Ávila: O livro da vidaCaminho de perfeição
─ Santa Catarina de Sena: O diálogo
E muitos outros, que agora seria impossível citar, além de numerosas obras excelentes de autores antigos e contemporâneos, que podem fazer um bem imenso à nossa alma. Pesquise, pergunte, consulte a quem lhe puder dar um bom conselho. Acredite na leitura espiritual. A ela se pode aplicar perfeitamente o dito de Jesus: Pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7,16).
4. Mas, antes de encerrar esta conversa, queria dar dois esclarecimentos:
a) Não confunda a «leitura espiritual» com a «oração mental» (ou a «meditação»). É muito frequente o engano de pessoas que utilizam determinados livros para fazer a sua oração mental (ou a sua meditação), e acham que com isso estão fazendo leitura espiritual. Misturam e confundem conceitos diferentes. Veja o que já dissemos a respeito da oração e da meditação. Para a oração mental ou meditação, cada dia, se quiser, você pode escolher à vontade textos de livros diferentes, os que achar que lhe podem servir de apoio para meditar sobre a sua vida e “falar com Deus”. A «leitura espiritual», porém, como acabamos de ver, é coisa diferente: trata-se de ler em sequência, quase que de “estudar” um livro inteiro, completo, que garanta o aprofundamento da sua formação. Não esqueça essa distinção;
b) Há outras leituras, que também nos fazem muito bem; mais ainda, que nos fazem muita falta: as que nos proporcionamformação doutrinal. Entre elas, podem-se destacar os catecismos: desde o Primeiro Catecismo ou o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, até o próprio Catecismo da Igreja Católica, amplo, profundo, excelente, ainda que exige certo preparo doutrinário para entendê-lo bem. Um bom livro de teologia para leigos, que não hesito em recomendar, é a obra do americano Leo Trese, A fé explicada; excelente, pedagógico e claro. Em bastantes casos, pode ser usado também como “leitura espiritual”.
Todos deveríamos achar algum tempo (não precisa ser diário, pode ser semanal, mais longo nas férias) para ler obras doutrinais. Hoje, num mundo de ideias confusas, é uma necessidade vital.

10 mandamentos para a familia

1. Tenha fé e viva a Palavra de Deus, amando o próximo como a si mesmo.
2. Ame-se, confie em si mesmo, em sua família e ajude a criar um ambiente de amor e paz ao seu redor.
3. Reserve momentos para brincar e se divertir com sua família, pois a criança aprende brincando e a diversão aproxima as pessoas.
4. Eduque seu filho através da conversa, do carinho e do apoio e tome cuidado: quem bate para ensinar está ensinando a bater.
5. Participe com sua família da vida da comunidade, evitando as más companhias e diversões que incentivam a violência.
6. Procure resolver os problemas com calma e aprenda com as situações difíceis, buscando em tudo o seu lado positivo.
7. Partilhe seus sentimentos com sinceridade, dizendo o que você pensa e ouvindo o que os outros tem para dizer.
8. Respeite as pessoas que pensam diferente de você, pois asdiferenças são uma verdadeira riqueza para cada um e para o grupo.
9. Dê bons exemplos, pois a melhor palavra é o nosso jeito de ser.
10. Peça desculpas quando ofender alguém e perdoe de coração quando se sentir ofendido, pois o perdão é o maior gesto de amorque podemos demonstrar.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Discurso do Papa em Turim

Queridos jovens,
Agradeço-vos esta calorosa receção! E obrigado pelas vossas perguntas, que nos levam ao coração do Evangelho.
A primeira, sobre o amor, questiona-nos sobre o sentido profundo do amor de Deus, que nos é oferecido pelo Senhor Jesus. Ele mostra-nos até onde chega o amor: até ao dom total de si próprio, dando a sua vida, como contemplamos no mistério do Santo Sudário, quando nele reconhecemos o ícone do '' amor maior. " Mas este dom de nós mesmos não deve ser imaginado como um raro gesto heroico ou reservado para uma qualquer ocasião excecional.
Podemos de facto assumir o risco de cantar o amor, de sonhar o amor, de aplaudir o amor...sem deixarmo-nos tocar e envolver com ele! A grandeza do amor revela-se no cuidar das pessoas necessitadas, com lealdade e paciência; por isso é grande no amor quem sabe fazer-se pequeno para os outros, como Jesus, que se fez servo.
Amar é fazer-se próximo, tocar a carne de Cristo nos pobres e, nos últimos, abrir à graça de Deus as necessidades, os apelos, as solicitações das pessoas que nos circundam. O amor de Deus, assim, entra, transforma e torna grandes as coisas pequenas, torna-as sinal da sua presença. S. João Bosco é nosso mestre, precisamente, pela capacidade de amar e educar a partir da proximidade que ele vivia com os rapazes e os jovens.
À luz desta transformação, fruto do amor, podemos responder à segunda questão, sobre a falta de confiança na vida. A falta de emprego e de perspetivas para o futuro, certamente, ajuda o movimento da própria vida, colocando muitos na defensiva: pensar em si mesmos, gerir o tempo e os recursos de acordo com o seu próprio bem, limitar os riscos de qualquer generosidade...São todos sintomas de uma vida mantida e preservada a todo custo e que, no final, pode levar à resignação e ao cinismo.
Jesus ensina-nos, ao invés, a percorrer a estrada oposta: ‘Quem quiser salvar a sua própria vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvar-se á’ (Lc 9:24). Isto significa que não devemos atender a circunstâncias externas favoráveis, ​​para metermo-nos, verdadeiramente no jogo, mas que, pelo contrário, apenas empenhando a vida – conscientes de perdê-la – criamos para os outros e para nós as condições de uma nova confiança no futuro.
E aqui os meus pensamentos vão espontaneamente para um jovem que realmente passou assim a sua vida, tornando-se um modelo de confiança e ousadia evangélica para as jovens gerações de Itália e do mundo: o Beato Pier Giorgio Frassati. Um dos seus lemas era: "Viver e não ir vivendo." Esta é a estrada para experimentar em plenitude a força e a alegria do Evangelho. Assim, não só encontrareis confiança no futuro, mas conseguireis gerar esperança entre os vossos amigos e nos ambientes em que viveis.
Uma grande paixão de Pier Giorgio Frassati era a amizade. E a vossa terceira pergunta, dizia exatamente: como viver a amizade de uma forma aberta, capaz de transmitir a alegria do Evangelho? Soube que esta praça nas noites de sexta-feira e sábado, é muito frequentada pelos jovens. Assim acontece em todas as nossas cidades e vilas.
Penso que alguns de vós encontrais-vos aqui ou noutros lugares com os vossos amigos. E então faço-vos uma pergunta – que cada um pense e responda dentro de si mesmo: nesses momentos, quando estais em companhia, conseguis fazer transparecer a vossa amizade com Jesus nas atitudes, no modo que vos comportamentais? Pensais, algumas vezes, mesmo no tempo livre, no lazer, que sois pequenos ramos ligados à videira que é Jesus?
Garanto-vos que pensando com fé nesta realidade, sentireis correr em vós a "força vital" do Espírito Santo, e levareis frutos, quase sem vos aperceberdes: sabeis ser corajosos, pacientes, humildes, capazes de partilhar, mas também de diferenciar-vos, de alegrar-vos com quem se alegra e chorar com quem chora, sabereis gostar de quem não nos quer bem, responder ao mal com o bem. E, assim, anunciareis o Evangelho!
Os Santos e as Santas de Turim ensinam-nos que cada renovação, mesmo aquela da Igreja, passa através da nossa conversão pessoal, através daquela abertura do coração que acolhe e reconhece as surpresas de Deus, impulsionado pelo amor maior (cf. 2 Cor 5 , 14), que nos faz amigos também das pessoas, em sofrimento e marginalizadas.
Queridos jovens, juntamente com estes irmãos e irmãs maiores que são os santos, na família da Igreja, temos uma Mãe, não nos esqueçamos! Desejo que confieis plenamente nesta terna Mãe que indicou a presença do '' amor maior "precisamente no meio dos jovens, nesta festa de núpcias. A Nossa Senhora "é a amiga sempre atenta, para que não venha a faltar o vinho na nossa vida" (ibid., N. Evangelii Gaudium, 286). Rezemos para que não nos deixe faltar o vinho da alegria!
Obrigado a todos! Deus abençoe todos vós. E, por favor, rezai por mim.